top of page


Ilha da Madeira, 1989

Existe um problema recorrente sobre o qual eu sempre me debati e que parecia não haver uma solução eficaz e sucinta. «Popular», «Tradicional», «Folclórico», «Étnico», são termos que hoje em dia, quando aplicados a determinadas expressões, particularmente às artísticas e espirituais, confundem a quem com elas se depara e nada esclarecem. Na verdade, o que é «Popular» e o que realmente significa? É aquilo que foi criado pelo povo e que a ele lhe pertence? E afinal de contas, quem é o Povo? Do ponto de vista histórico, o Povo deixou de constituir uma classe social após a Revolução Francesa. Povo são os camponeses, a gente do mar, os operários e os vários estratos da burguesia, que hoje descende muito daquela classe a que ainda no século passado chamávamos Povo. Numa sociedade como a atual sociedade portuguesa, a maioria do operariado é filha ou neta de camponeses, artesãos e gente do mar.
Mais claro e explícito é o significado do termo «tradicional» tantas vezes acompanhado do termo «popular». Outrora, o que era popular era tradicional, mas nem tudo o que era tradicional era popular! Hoje em dia há muita coisa tida como popular que não o é, nem tradicional.
Descobri também que «Folclórico», é o estudo dos usos e costumes, das tradições espirituais e sociais, das expressões orais e artísticas que permanecem num povo evoluído, numa classe social ou num estrato social evoluídos. É precisamente a herança cultural tradicional de um povo evoluído. Só os povos e estratos sociais evoluídos têm folclore, as sociedades e os povos primitivos não têm folclore, têm a sua própria Cultura.

 Â«Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se afastou numa representação.» Guy Debord


As circunstâncias da vida levaram-me a crer que a alma de um povo gira sobre si, e que o nosso dever enquanto cidadão, é apenas enaltecer essa condição.
Desde sempre procurei enaltecer e dignificar a minha terra, o lugar onde nasci e cresci.
O meu trabalho inicial teve a particularidade de representar a gente do campo, através de fotografias de pessoas conhecidas e desconhecidas.
A constante dependência da fotografia para a produção do desenho, definiu o meu trabalho como sendo indissociável de uma imagem pré-definida, como inteiramente dispensável da mesma. Funcionam um pouco como imagens documentais, que tratam a história de uma determinada região e povo.


 

bottom of page